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O novo uso do alumínio e o reflexo na indústria das bicicletas

As bicicletas construídas em alumínio sofreram certa desvalorização e receberam o título de “bikes de entrada” depois da popularização dos quadros de carbono. Porém, recentemente, os cliclistas quebraram este discurso, obrigando...

Nem tudo no mundo das bikes deve ser resumido à alta tecnologia e tendências que se dizem “último lançamento”. Copiar as escolhas de um campeão mundial nem sempre vai ser uma boa ideia, pois é normal existirem diferenças entre os objetivos de um atleta de alta performance e um ciclista médio comum.

Costumo sempre evidenciar quais são as boas ideias que podemos aprender com os atletas de alta performance, assim como quais ideias devemos rejeitar, mesmo que sejam escritas pelos melhores do mundo.

Em um rápido exemplo, entendo que a tecnologia de apenas uma coroa com 12 velocidades no câmbio traseiro é uma das mais revolucionárias e mais importantes para quem pretende competir no mtb, mas nem tanto para quem pretende usar a bike como lazer ou mesmo em competições amadoras. O público leigo acreditou que 12 marchas iriam melhorar o pedal de 20 km até a cachoeira. Grande enganação promovida pela indústria.

Por outro lado, o canote retrátil é uma inovação “menos cara”, mas com um benefício fantástico para todos os tipos de ciclistas e bicicleteiros, profissionais ou iniciantes, desde que pretendam se aventurar em algum tipo de trilha ou pilotagem minimamente técnica. Este é um upgrade que recomendo para qualquer iniciante no MTB, muito mais do que o queridinho kit 12 velocidades.

Podemos dissecar esses dois itens em outros textos (me cobrem), mas só revirei estes exemplos para pontuar que os quadros em alumínio também carregam alguma polêmica com relação ao seu uso, sobretudo com algum preconceito que paira sobre o mundo de duas rodas e, erroneamente criou uma classificação e uso incorreto para este tipo de material.

Chamo a atenção de todos para evitarem gastos altos travestidos de “melhores resultados”.

Os aspectos mais importantes na escolha do material de uma bicicleta são:

                - Durabilidade/ resistência

                - Rigidez/ estabilidade

                - Amortecimento de impactos/ conforto

                - Preço

                - Peso

                - Estética (sim, isso é importante)

                - Capacidade de reparo em caso de quebra

Essa lista não segue uma ordem de importância, até por quê o que é importante para você pode não ser tão importante para o Nino Shcurter (e vice-versa, principalmente). Como exemplo, o Nino pouco se importa para o quesito preço ou a capacidade de reparo em caso de quebra, uma vez que ele descartaria qualquer bicicleta que por ventura tenha sofrido alguma avaria, mesmo que estética.

Mas para um cicloviajante, um quadro de cromo é uma ótima opção. Ele tem certo conforto devido ao amortecimento de impactos e qualquer mecânico soldador consegue consertar este material caso apareça uma fissura ou quebra.

Objetivos diferentes levam à escolhas diferentes.

Leo no Inca Divide em 2020, com a sua humilde bicicleta Magia. Foto: Cesar Delong

Gosto de pontuar as seguintes categorias de objetivos mais comuns e que mais demandam escolhas específicas:

                - Atletas de alta performance

                - Atletas amadores

                - Ciclistas de lazer (o famoso pedal até a cachoeira)

                - Cicloviajantes

                - Mobilidade urbana

É claro que dentro de cada uma dessas categorias (não estão todas aí), ainda existem muitas subdivisões (longa distância, curta, homem/mulher, road, enduro, gravel, pump track, fixa, bike na neve, grau etc)

Não pretendo analisar cada categoria e a melhor bicicleta para cada um, até por que diversas polêmicas iriam surgir e nenhum expert em bicicletas é dono de tanto conhecimento a ponto de definir qual é o melhor equipamento para cada um dos infinitos tipos de ciclistas.

Quero pontuar apenas uma única polêmica, mesmo sabendo que haverá demasiadas resistências: muitos desconhecem o potencial do alumínio.

 

Uma base enorme de ciclistas amadores (competidores ou não) cultivam um preconceito com relação a estes quadros e isso contaminou o mercado como um todo, levando diversos ciclistas a tomarem decisões erradas. Mais ou menos como foi o favoritismo dos grupos de 12 velocidades.

Deixe-me pontuar aqui alguns pontos positivos que o alumínio possui, assim como os supostos pontos negativos, que na verdade estão a um abismo de distância de muitos dos ciclistas comuns.

Começamos pelo básico: O alumínio é mais barato que o carbono. Todos já sabem disso.

Vamos evoluir a conversa: Resistência - o alumínio é mais forte. Não estou dizendo que um quadro de carbono ofereça algum risco de quebra. Mas, em situações de mal uso, como por exemplo, afixar a sua bike em um suporte veicular e cometer o erro de dar um aperto exagerado em alguma abraçadeira que apertou excessivamente um dos tubos da bicicleta.

Neste caso, é fácil danificar um quadro de carbono. Ele não tem margem para erros - até por isso não recomendamos seu uso para iniciantes. Me refiro não somente a erros e mau uso, mas situações rotineiras que até mesmo ciclistas experientes cometem no dia-a-dia.

Sabe quando você vai fazer uma pausa no pedal e encosta a bike em um poste? Lentamente, ela dá uma leve escorregada e você escuta o quadro colidir com o poste de concreto. Dói na alma, mas quem nunca?

Neste caso, o quadro de carbono é um pouco mais chato. Ele foi projetado para receber somente as forças que aparecem durante um pedal, não de um transbike forçando o meio de seus tubos ou um poste de concreto batendo bem no meio da sua logo.

 

É por isso que não faz muito sentido bicicletas de carbono para crianças. É claro que seria legal ter uma bike mais leve para eles, mas a que custo? Eles terminam o pedal e, inocentemente encostam a bicicleta em uma escadaria, deixando uma marca na pintura e as vezes até um amassadinho.

Bicicleta pra molecada tem que ser mais resistente que a dos adultos.

E por falar em adultos, convido-lhes a experimentar o conforto que é ter uma bicicleta que você não precisa estar 100% do tempo preocupado com o local que encosta ela, se tem peso apoiado no toptube ou se apertou demais o transbike. Emprestou a bike pra um amigo? Tudo bem se ele não der o aperto correto no torquímetro. Quer colocar uma cadeirinha de bebê no quadro? Seja feliz. O alumínio te permite relaxar. 

E quando a gente começa a discutir sobre os aspectos mais técnicos: estabilidade, rigidez e amortecimento de impactos, encontramos algumas surpresas.

Já é conhecido que o carbono é superior ao alumínio quando o assunto é absorção de micro-impactos e vibrações. Isso é verdade e faz bastante diferença na pilotagem sim. É por este motivo que praticamente todas as marcas de bicicletas pararam de produzir bikes de estrada (speeds) com garfos em alumínio.

Até mesmo as bikes de estrada mais simples, possuem garfo em carbono.

Existe uma polêmica aí: na verdade algumas marcas só fabricam um pedaço curto dos garfos em carbono, deixando as extremidades em alumínio (alcançando até 70% da composição do garfo em alumínio e somente 30% em carbono) - mas mesmo assim vendem como se fosse um “garfo em carbono”.

As marcas que levam a sério a qualidade da absorção de micro-impactos e peso, fabricam toda a peça em carbono, incluindo a espiga do garfo.

Fato é que o alumínio realmente cria um pequeno “problema” no conforto das bicicletas de estrada, mas no caso das mountain bikes isso começa a se tornar menos relevante. Explico:

Com uma suspensão de 100 mm ou mais, pneus cada vez mais largos e punhos mais confortáveis que as fitas de guidão, os micro-impactos vão se tornando um problema “marginal”. Isso fazia diferença nos anos 2000, quando o carbono se popularizou em um momento em que as MTB eram quase todas sem suspensão traseira, as dianteiras tinham no máximo 100 mm e os pneus eram aro 26 com 1.8. Aí a absorção do carbono acabava melhorando mesmo o conforto, mas hoje, com todas as características mais robustas das MTB, esse tal benefício do carbono virou de fato um ganho “marginal”.

Coloco entre aspas, pois não quero dizer que ele seja inexistente ou sem importância, mas que ele não mereça atenção de quem pretende comprar uma bicicleta de até 15 mil reais.

Ganhos marginais vão te fazer ganhar um, dois ou três segundos – o que faz pouca diferença no pedal até a cachoeira ou treinão do final de semana com os amigos.

 

 

Outro “problema marginal” do quadro em alumínio é o seu peso. É claro que queremos um equipamento mais leve, seja para uma bike urbana, infantil ou mesmo uma elétrica. Todas as escolhas precisam ser jogadas na balança para tentarmos produzir a tão famosa equação do custo X benefício, que muitas vezes deixa de ser técnica e passa a ser recheada de preconceitos.

Uma bicicleta um pouco mais pesada é de fato uma catástrofe para atletas profissionais, mas chega a ser uma alforria para a galera que quer se divertir e ter um equipamento mais durável, com menos dor de cabeça.

Já faz tempo que toda a indústria da bicicleta entendeu que é preciso derrubar o discurso de redução de peso “custe o que custar”. Na verdade, os últimos lançamentos de câmbios, relações de marcha e suspensões ficaram mais pesados do que dos modelos anteriores.

Lembram-se do famoso XX AXS da Sram? A propaganda dele não foi “menos peso” e sim “mais resistência”, “aguenta qualquer pancada”.

 

 

Isso é tudo que o ciclista sempre pediu e vai na contra-mão da obsolescência programada (produtos que duram cada vez menos) tão ruim no mercado de qualquer tipo de produto.

Pra que eu quero um câmbio mais leve, mas que desalinha toda hora?

De que me adianta uma suspensão leve, mas sem estabilidade?

Devo economizar peso com um canote convencional, que não me entrega a mesma segurança e diversão que os "pesados" canotes retráteis possuem?

Vale a pena investir mais caro em um quadro mais leve, que vai me demandar atenção total ao meu equipamento e manutenção, com menos margens para erros? É claro que em algumas situações, sim. Mas na maioria das situações de um ciclista comum, não.

É hora de entender que o bom e velho alumínio está voltando à ter um peso maior na equação da escolha de uma bike por que essa tecnologia rompe com os valores de alta performance e ganhos marginais.

Os valores do alumínio representam um novo movimento dos ciclistas e da nova sustentabilidade da indústria da bike: diversão, durabilidade, robustez e redução de preço.

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