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Surf sem quilha, MTB sem Shock

Vez ou outra gosto de comparar os esportes que tem o “surf” em seu DNA. Não me refiro ao surf propriamente dito, mas aos esportes que se parecem com ele.

O skate e o MTB são clássicos.

Hoje surfando pela Perdidas me lembrei de um documentário que vi muitos anos atrás sobre um grupo de surfistas (do surf no mar mesmo), que decidiram surfar sem quilhas – aquelas pequenas barbatanas que existem nas pranchas.

Eles explicavam que as pranchas de surf foram criadas inicialmente sem as quilhas, e que foi assim que os primeiros surfistas – que criaram aquele esporte – se aventuraram pela primeira vez nas ondas.

Era uma forma totalmente diferente de surfar. As pranchas giravam 360 graus enquanto desciam as ondas e os surfistas pareciam ter expressiva dificuldade em manter o controle e pilotagem dentro da água. Qual é a graça disso?

Lembrei desse episódio por que eu estava em uma das trilhas mais técnicas da região utilizando uma MTB rígida e de alumínio. Sem carbono nem suspensão traseira.

Sim, eu tenho uma full de carbono e deixei ela em casa.

A discussão é parecida com a dos surfistas, por que ambas retomam a utilização de um equipamento munido de menos tecnologia, o que nos retoma aos primórdios do esporte e cria maior conexão com o ambiente em questão.

Ter uma suspensão a menos exige que você tenha mais contato e experiência com o terreno que está pedalando. Nenhuma pedrinha vai passar despercebida por você.

Acho que nenhum surfista utilizaria pranchas sem quilha em um campeonato, mas no MTB ainda encontramos alguns monstros que preferem utilizar a bicicleta rígida.

Se enganou quem pensa que a bike sem suspensão traseira não consegue passar em alguns obstáculos. Ela passa em tudo, porém, exigindo que o piloto faça a leitura do terreno que seria feita pela suspensão traseira. A sua velocidade tende a ficar mais baixa apenas em momentos de trepidação curta – tipo as “costelas de vaca” – mas não em saltos, drops ou curvas fechadas. E nas subidas, menos peso para carregar, mais velocidade.

É a pilotagem raiz.

Sou um colecionador de discos de vinil e vez ou outra falo sobre o por que dos discos gigantes terem um áudio melhor do que o MP3. Não vou explicar por aqui pois gastaria mais umas três páginas, mas quero reforçar que algumas tecnologias mais antigas, apesar de serem menos práticas e mais trabalhosas, nos trazem de volta para a essência daquela atividade que estamos praticando.

Ouvir um disco de vinil te aproxima mais da música, e o simples trabalho de tirar o disco da capa e colocar com cuidado na agulha, e depois virá-lo para o lado B cria um ritual muito mais precioso do que apertar as “descobertas” do Spotify.

O surf sem quilha fez aqueles caras do documentário entenderem que o movimento do mar tinha uma influência muito maior do que eles pensavam sob a prancha deles, cobrando dos pilotos mais controle e condução de seus equipamentos. Um enorme exercício de equilíbrio que, se comparado com o surf tradicional, lhes colocava em contato muito maior com o formato das ondas e suas peculiaridades. Era um documentário inteiro só para explicar o quão rico era a experiência de surfar sem quilhas.

E no MTB nós podemos sentir mais o nosso terreno. Entender a influência que cada pedrinha tem no nosso equipamento, como ela pode nos fazer decolar ou impulsionar para a próxima curva. Ou claro, perder o controle se não estiver esperto.

Eu tenho sim um full, mas nesses últimos dias tenho saído muito mais na rígida. Não é que a full seja pior. Pelo contrário, eu entendo que a tecnologia faz com que tudo fique melhor.

Eu escuto muito mais Spotify no dia a dia, mas as vezes que quero escutar um Pink Floyd e prestar atenção em cada detalhe da música, vou lá na coleção achar o disco.

E se eu decidir me aventurar no mar, é óbvio que vou usar quilhas. Mas se esse fosse o esporte do meu coração, aí eu seria mais ousado: tira as barbatanas só pra eu ver como é.

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